Carne e sangue: o mistério da Eucaristia
São João 5.51-58
Jesus anuncia que ele é o pão da vida, aquele que é o alimento vivo enviado por Deus. Ao afirmar, nos versos 53 e 54, que quem come de sua carne e bebe de seu sangue tem a vida eterna, Jesus deixa perplexo seus ouvinte. O que Jesus quer dizer com “quem come a minha carne e bebe do meu sangue”?
O que quer dizer “quem come a minha carne”?
A carne é o corpo de Jesus. Há nesta expressão o sentido mais pleno da humanidade de Jesus. Quando Jesus afirma “comer da minha carne” ele diz aos seus ouvintes que eles devem estar prontos a experimentar o que Jesus experimentou e experimentaria.
Em seu ministério, Jesus demonstrou ser verdadeiramente humano. Caminhou, teve sede, teve fome, sentiu cansaço. Foi humano. Teve suas limitações, teve seus momentos de alegria, teve seus momentos de tristeza. Porém, não foram as limitações ou momentos de alegria e tristeza que fizeram dele mais ou menos humano. Foi a forma de se relacionar com seu semelhante, independente de suas condições. Foi a maneira como tratou a todos de maneira eficaz e igual.
Ao afirmar que quem não comer da sua carne não terá vida, Jesus está nos dizendo que devemos experimentar o sermos realmente humanos, como ele foi, se relacionando com o semelhante, doando-se em favor do próximo. Não há singeleza de atitude e amor maior que o se doar ao próximo. Por isso, o “comer de minha carne” tem como consequência o “beber do meu sangue”.
O que quer dizer “quem bebe do meu sangue”?
Se “comer da minha carne” é experimentar a humanidade de Jesus, “beber do meu sangue” é experimentar um pouco do seu sacrifício. Digo um pouco pois não temos ideia do peso da cruz, mas devemos ter a consciência de seu valor.
Jesus levou sobre si as nossas dores, o nosso pecado, a nossa angustia, o nosso sofrimento. Naquela cruz, no calvário, Jesus suportou o peso de toda a humanidade. Beber do sangue de Jesus é ter a consciência deste peso. É saber da importância do sacrifício, é conhecer o sabor amargo da cruz e agradecer a Deus por seu filho ter morrido em nosso lugar.
“Beber do sangue” de Jesus é viver, a cada instante, com a consciência de que, apesar do nosso pecado e do nosso erro, somos feitos justos perante Deus.
Quero concluir convidando você a refletir sobre a importância de celebrarmos a Eucaristia. Temos por costume, herdado desde a reforma em Genebra, passada pelos presbiterianos da Escócia, dos EUA e chegou até nós, o habito de celebrarmos a Eucaristia uma vez por mês. João Calvino, em Genebra, foi derrotado nesta questão. Ele enfatizava, e eu concordo, que a celebração eucarística deveria ocorrer toda vez que o Corpo de Cristo, a Igreja, se reunisse, ou seja, dominicalmente. Defendo, particularmente, esta ideia, por acreditar ser a Ceia do Senhor o momento de fortalecimento da fé e encontro direto com a humanidade e sacrifício de Jesus, nisto consiste o mistério da Eucaristia. É o momento em que a Igreja se volta para o ministério, para a vida e para o sacrifício de Jesus. Portanto, celebrar a Eucaristia dominicalmente não é banalizar o ato, mas é manter viva na alma o mistério da Eucaristia: a humanidade de Jesus expressa em palavras e atitudes e seu sacrifício em favor da humanidade. Por isso, na última refeição com seus discípulos, Jesus resgata esta mesma imagem do corpo como pão, do vinho como sangue, que mais que símbolo, é o referencial direto. Por isso abomino a ideia da ceia como memorial e a celebro como ato festivo. Jesus não é apenas uma lembrança no momento da Eucaristia, ele é presença viva entre nós. Seria rico espiritualmente e pessoalmente, celebrarmos dominicalmente a Eucaristia e convido você a pensar sobre isso. Quem sabe não possamos experimentar viver esta realidade?
Quero encerrar com um poema de minha autoria, que estará publicado em breve em meu novo livro de poesias Caixa de Versos, e que fala desta humanidade de Jesus e do mistério da Eucaristia. Chama-se Celebra Saudade:
No peito bate a saudade,
lembrança viva na alma.
Palavra que alimenta,
nos dá paz, nos acalma.
Os gestos estão vivos
no nosso coração.
Seu olhar sempre firme
carregado de emoção.
Nesta hora celebramos
como o Senhor fazia:
reunidos como povo,
celebramos: Eucaristia.
Pão: corpo.
Vinho: sangue.
Lembramos sua vida,
lembramos sua cruz.
É bom estar à mesa,
contigo Senhor Jesus.
Rev. Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo
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