terça-feira, 11 de setembro de 2007


Somos barcos
Rev. Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo
"Um barco está seguro num porto.
Mas os barcos não foram feitos para isso"
(John A. Shaeed)

"Viver é a única coisa que não dá para deixar pra depois"
(Gutemberg Guarabyra)

Sentir-se seguro. Quantas vezes não ouvimos a comparação de que temos que procurar um porto seguro para nossas angustias e para nossa vida e que esse porto é Deus. Eu discordo. Deus nos criou para liberdade, para vivermos, para velejarmos por esse mar que é o mundo, levados pelo vento. Aí sim, vejo que Deus é vento, e não porto. Explico. É Ele que nos leva e nos conduz para onde Ele quer, portanto, aprisionar-se à "portos seguros" é negar a liberdade que Ele nos deu. É simples. Prender-se em "portos seguros" é prender-se às situações e realidades que são confortáveis e inertes. Deus nos chama para sermos "barcos fora do porto" e para isso é preciso confiar n'Ele, é preciso confiar que Ele soprará o vento na direção certa, confiar que mesmo em meio a tempestades estaremos tranqüilos, viveremos momentos de calmaria e momentos de furacões. A diferença é a certeza de que Ele "acalma a tempestade".
Lembre-se: "os barcos estão seguro no porto, mas não foram feitos para isso". Nós gostamos de situações de conforto e segurança, mas a segurança do Reino de Deus não é a mesma segurança que procuramos, basta lançar os olhos sobre o Santo Evangelho e veremos que a segurança que Nosso Senhor oferece é uma segurança que não tem nenhuma relação com "não passar por problemas", mas tem relação com a busca de paz para todos, para a humanidade, de harmonia com Deus e com o próximo, tem relação com "amar ao próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas".
Certo, já entendemos que não podemos ficar presos a nenhum "porto". Qual o nosso medo então? Temos medo de viver. É verdade, temos medo viver, medo de enfrentar situações, medo de ferir-se, medo de amar, medo de ser amado, medo de procurar novas situações e por conta desse medo acabamos deixando para depois, para amanhã o correr atrás de nossos sonhos, o permite-se, o deixar-se, o viver. Queremos priorizar nosso trabalho, nossa igreja, nosso ministério e esquecemos de priorizar a nossa vida. Não! Isso não é pensar em si mais que nos outros, isso é pensar na sua vida, nas suas decisões, nos seus momentos de intimidade e plena satisfação em nada fazer ou em fazer o que te dá alegria. Isso é viver, isso se deixar viver, isso é "amar o próximo como a si mesmo", ou seja, isso é amar-se.
Por fim, viver é soltar-se ao mar, guiado pelo vento. Resumindo, viver é deixar-se levar pelas mãos de Deus. O nosso desafio é transformar essas palavras que escrevo e que hoje você lê em verdade, seja qual for o âmbito da sua vida que precise delas, de preferência, na sua vida toda. Buscar a paz é atirar-se na tempestade, é vivenciar a tormenta, para depois descansar na calmaria.
"Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar meu bem querer
Se Deus quiser, quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer"

("Suíte do pescador" - Dorival Caymmi)
*Nota: Este texto foi escrito quando eu ainda era seminarista

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