segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Caminho de Glória que leva a morte!

São Mateus 21.1-11

Não me canso de relembrar, nesta época do ano, da beleza de emoção de viver cada momento do calendário litúrgico como se estivéssemos realmente presenciando aquele momento. Gosto de vivenciar, na leitura do evangelho, os instantes e fatos do período da quaresma culminando no domingo de ramos. Este domingo, quando celebramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, nos lembramos da vida de Jesus e seu propósito último, que estava por se cumprir.

Neste episódio específico temos o cumprimento da profecia dos profetas Isaías e Zacarias: O rei humilde haveria de ser aclamado pelo povo sofredor.

Neste cenário de preparativo para a cruz, que encontramos a celebração da chegada do “profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia”

O que este cenário tem a revelar a cada um de nós hoje? O que podemos aprender com Jesus entrando em Jerusalém, o que podemos aprender sobre o caminho de glória que leva para morte?

Para nós a alegria da chegada do Rei. Jerusalém era uma cidade bastante povoada para seu tempo. E como tal enfrentava os mesmos problemas de uma cidade grande: desigualdade social. Ao redor da cidade ficavam os pastores e suas ovelhas, o povo mais humilde, carpinteiros, povo que não possuía valores materiais mas carregavam consigo a esperança de vinda de um messias que mudaria a sua realidade.

É este povo humilde, que residia na periferia de Jerusalém que recebe Jesus como o profeta, o rei humilde sobre o jumento, o rei que haveria de restaurar o SHALOM, a paz de Deus em ISHRAEL.

Voltando nossos olhos para hoje, onde podemos encontrar humildade e nosso meio? Haveria por parte dos líderes de nossa nação, estado, cidade, igreja humildade no trato com o povo? Haveria o reconhecimento de se montar em lombo de jumento ao invés de pilotar carros de última geração? Esta é a diferença do Rei que chega em Jerusalém e o rei que muitas vezes nós queremos! O primeiro vem num lombo de jumento e é aclamado pelas periferias, por aqueles que estão à margem da vontade da sociedade e dos poderosos. O segundo, o que nós muitas vezes queremos, vem para solucionar como num passe de mágica as mazelas que nos assolam. Buscamos líderes mágicos para solucionar problemas reais. Jesus é a solução. O rei humilde, que lida com os humildes, que é aclamado com ramos e não com pompa e protocolo de estado. O rei que vem para transforma a vida!

É preciso olhar para Jesus entrando em Jerusalém e reconhecer precisamos d’Ele para restaurar nossa nação, nossa casa, nossa vida. Ele é o rei que vem para redimir seu povo da escravidão, não trabalharão mais para sustentar o reino do horror, mas sim para construir o reino do amor.

Percebam como é interessante o fato de Jesus, logo após entrar e ser aclamado seguir em direção ao Templo e de lá expulsar os comerciantes da fé, os mercadores da esperança. Mais interessante ainda é o fato de ser questionada a autoridade de Jesus! Aqueles que estão no poder não reconhecem em Jesus o que o povo humilde e sofredor, à margem do caminho, reconhece: Ele é o Rei! Preferem fechar seus corações e apegarem-se às leis, aos dizeres dos sábios, à comodidade de suas funções, a negar tudo pelo Reino de Deus.

Você e eu somos assim. Preferimos nos apegarmos aos nossos compromissos, aos nossos afazeres do que abrir mão de tudo e louvar ao Senhor com nossas vidas.

Nos apegamos ao que construímos e pensamos sermos capazes de nos mantermos por nós mesmos. Estamos acomodados em nossos bancos de igreja enquanto na verdade somos chamados a expulsar do templo os mercadores da fé, somos chamados a levar a cura e restauração da vida aos que estão fora do reino.

Ao entrar em Jerusalém, Jesus revela sua missão: ele é o nosso Rei, e por isto estamos alegres! O Rei humilde, o rei que vem para nos restaurar!

Para Jesus os passos em direção à morte. Se para nós a entrada de Jesus em Jerusalém e a alegria do Rei humilde que vem para nos restaurar a vida, para o próprio Jesus é o momento marcante de seus passos definitivos em direção à morte.

Jesus, montado naquele jumento, contemplava um povo sofrido, cansado da exploração e da humilhação de ser subjugados pelos Romanos e pelos próprios líderes civis e religiosos. Via na face do povo a esperança de ser redimido por Ele, mas, ao contemplar Jerusalém à sua frente, via a traição, a dor, as lágrimas, o sofrimento, a cruz, a morte. Contemplava o peso que haveria de suportar e via sua missão se fortalecer a cada passo que o jumento dava em direção à cidade. Um caminho de contrastes: a alegria do povo sob a perspectiva da morte.

Neste contraste de sentimentos e expectativas da morte eminente que Jesus entra em Jerusalém. Tem sobre si a expectativa de um povo que vê n’Ele o cumprimento da profecia de Isaías 62 e Zacarias 9. Tem sobre o si o peso de sua missão e sabe que aqueles serão seus últimos dias junto com os discípulos e sobre a terra. Carrega consigo a ansiedade de ver a hora chegar. Carrega consigo a saudade eminente das conversas com seus seguidores. Carrega consigo o olhar do povo desesperado aclamando o Rei humilde.

Para nós hoje, contemplar Jesus entrando, neste contraste de sentimentos, é contemplar o Filho de Deus olhando para a multidão e compadecendo-se dela. Vendo o desespero e trazendo a esperança sob o lombo de um jumento! O que você e eu devemos fazer como seguidores de Jesus é justamente levar a esperança ao desesperado, a alegria ao triste, o alívio ao aflito!

O que temos feito para honrar o Rei Jesus? Como temos vivido a missão que Ele confiou a cada um de nós de viver o Evangelho? Temos nos fechado em torno das paredes do templo, das nossas vidas repletas de problemas, ou temos caminhado em direção aos aflitos e desesperados, levando-os ao Rei humilde que vem para nos redimir e restaurar?

Jesus passava por um caminho de glória, mas sabia que o que o esperava era a morte. É para lá que caminhamos quando somos Cristãos de fato. É em direção à morte que caminhamos, mas principalmente, caminhamos com a certeza de estarmos à serviço do Rei da Vida!

Conclusão. A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém não é apenas um fato a mais na vida de Cristo, mas é o primeiro passo em direção à cruz. Embora soubesse desde o início de seu ministério o que o aguardava, Jesus via que a sua hora era próxima, que estava se concretizando os desígnios de Deus. Ele sabia dos sofrimentos a que teria que passar.

Achegue-se perto da cruz de Cristo, veja o sacrifício, e assim como Ele, vá aonde ninguém ousa ir, e proclame a Salvação em Cristo.

Que nosso cultuar a Deus não seja como os Hosanas de um povo que espera uma libertação instantânea, mas que ele seja um cultuar repleto da esperança de que juntos poderemos transformar nossa sociedade em uma sociedade justa e verdadeira.

Rev. Giovanni Alecrim

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