Chuva
Onestaldo de Pennafort
A chuva entorna na paisagem calma
Uma indolência de abandono e sono
Paisagem triste como a de minha alma...
A chuva é um longo sono de abandono...
Olho através do espelho da vidraça.
Dorme o jardim sob soluços d'água.
Na rua, alguém cantarolando passa,
Cantarolando a minha própria mágoa.
Quem será esse vulto que se apossa
Da firme dor que em minha vida existe,
Para cantá-la assim num ar de troça,
De uma maneira que me põe mais triste?
E olho através do espelho da vidraça:
Dorme o jardim sob os soluços d'água.
Na rua adormecida ninguém passa.
A chuva canta a minha própria mágoa.
--
Onestaldo de Pennafort (Rio de Janeiro 1902 - 1987), foi um poeta da fase simbolista. Publicou seu primeiro livro Escombros Floridos em 1921. Tradutor de Shakespeare e Verlaine, contribuiu por muitos anos com os periódicos Fon-Fon, Careta, Autores e Livros, Para Todos e O Malho. Em 1955 foi homenageado com o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário