segunda-feira, 21 de junho de 2010

Você ama aquilo que faz? (E você faz aquilo que ama?)

por Adriano Silva
Quanto mais eu atuo em minha própria carreira, e quanto mais assisto carreiras acontecendo ao meu redor, mais eu comprovo o fato de que só é possível ser feliz profissionalmente quando você está próximo daquilo que gosta de fazer, daquilo que de fato lhe fala ao coração. A dose de felicidade diária será sempre menor quando você não está se dedicando a perseguir aquela atividade que realmente torna o seu dia melhor. Da mesma forma, a quantidade de desgostos que vão se acumulando ao longo da estrada, para quem atua longe do seu território de paixão, da sua verdadeira aspiração, será sempre maior. A ponto de se tornar, um dia, uma carga insuportável. Quando você faz o que ama, os desgostos são meras baixas de guerra. Não lhe atrapalham de verdade. Quando você está com meio corpo enfiado num negócio que no fundo nunca lhe interessou, os desgostos são atalhos indeléveis para o cinismo, para a neurose, para a desistência da busca santa (que deveria nos pautar a todos, sempre) pela alegria e pela realização. Um dia você acorda e se tornou uma pessoa áspera, mal humorada, prenhe das emoções mais corrosivas da espécie humana. Que são absolutamente deletérias para quem está a sua volta – mas para você também, em primeiro lugar e principalmente.

Todo mundo sabe exatamente aquilo que mais gosta de fazer, ainda que não admita. Em algum lugar da sua alma, todo mundo sabe. Normalmente não olhamos para isso. E quando nos deparamos com a coisa, com a nossa própria verdade exposta à nossa frente, fingimos não ver. A gente fica se dizendo a todo instante, às vezes em tom desesperado, o que deveríamos fazer, o que de fato nos encanta, o caminho pelo qual deveríamos seguir. No entanto, nos ouvimos muito pouco. Não nos aceitamos, não nos acatamos, não nos levamos a sério. Quando temos um momento feliz, deveríamos prestar atenção ao que nos fez sentir bem daquele jeito. Quando temos um dia bom, idem. E então deveríamos colocar mais daqueles ingredientes na nossa vida. O outro lado dessa moeda é igualmente verdadeiro: quando estamos nos sentindo mal, quando temos um dia ruim, eis aí momentos de grande valia para tratarmos de aprender a não vivê-los de novo. Para retirarmos de nossos repertórios os drives que nos levaram a sentir daquele jeito.

Viver uma vida que não é a que gostaríamos nem a que merecemos é resultado de uma série de coisas. Passa pela covardia de não tomar as decisões certas em determinados momentos. Pela falta de coragem de rever decisões equivocadas tão logo quanto possível. Pela comodidade pusilânime de dizer que não era possível mesmo, que é culpa da mãe ou do pai ou da avó, que Deus não ajudou, que o governo não deu condições, que o destino não quis, que os outros atrapalharam, que o mundo é mau. Passa também por um bocado de masoquismo, creio eu. De se perpetuar em situações distantes da ideal para ter também do que reclamar, para poder se vitimizar aqui e ali, diante dos outros e de si mesmo, como quem mantém feridas abertas para ter o que lamber e o que expor. Acho que esse mau hábito de negar o que nos diz a libido passa também pela venda dos sonhos mais caros pelo primeiro quinhão de moedas que aparece pela frente. Passa por ignorar a voz do coração em nome da decisão racional, raciocinada, fria, objetiva – que nem sempre é a melhor e muito menos a mais correta. Mas, sobretudo, acho que tudo isso passa pela tremenda dificuldade que a maioria de nós enfrenta e cultiva – eu, certamente – de se dedicar frontalmente ao projeto mais óbvio de felicidade. Ora, ao focar naquilo que mais queremos, ao perseguir única e exclusivamente aquilo que sonhamos com ardor, se não der certo, soa como o fim da vida. Como o fim do sonho. Como a morte do desejo. Então, para não nos decepcionarmos, mantemos a nossa aspiração mais sublime trancafiada no fundo da alma, conservada eternamente nesse âmbito tépido e imaterial. E nos dedicamos a ganhar a vida num outro terreno. Parece mais fácil transformarmos em realidade e nos desapontarmos e odiarmos algo de que já não gostávamos antes do que correr o risco de que isso aconteça com a nossa querida quimera. Louco. Com medo de nos tornarmos infelizes, abraçamos a infelicidade já na largada.

Um comentário:

POE disse...

Obrigada por esse post!!!
Voce nao tem nocao de como me trouxe a memoria que me da esperanca.

Da amiga e irma.
Domy

Ps... o blog da minha ong vai seguir o seu.. eeebbaaa