quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A morte do escritório [ E home office funciona? ]

Por Adriano Silva | 17/09/2009 - 15:26

Trabalhar em casa é mesmo uma arte. Só que (ao menos para mim e ao menos até aqui) bem menos difícil de operar do que sempre imaginei. Há que seguir umas regrinhas. Como, aliás, tudo na vida. Tem o que dá certo e o que dá menos certo. (É interessante como este tema, que comecei a roçar ontem, gerou comentários bacanas. Gente que já experimentou, que tem opinião formadíssima a respeito, que é a favor e que é contra, de modo bem fundamentado. Um debate maduro para uma questão que a meu ver é premente. Apareceu a questão do controle do processo e dos funcionários, do autocontrole necessário, da expectativa de clientes e fornecedores. Muito interessante.)

Para mim, até agora, tem funcionado assim:
1. Home office pressupõe um espaço de trabalho dentro de casa. Um espaço físico isolado. Que ajude a demarcar um espaço mental bem definido. A porta tem que estar fechada. A cabeça tem que estar focada. A rotina da casa da casa não pode interferir. As questões domésticas têm que ser resolvidas fora do horário de trabalho. Você não está disponível. Você está trabalhando.
2. É preciso tirar o pijama. A roupa é um signo importante. E vestir-se para trabalhar é um ritual de passagem igualmente necessário. Você está indo trabalhar. Você não está doente, nem vai para a piscina, nem está no quintal ou de férias. Você está indo para o escritório. Só que ele fica na sua casa: você vai andar alguns passos ao invés de vários quilômetros.
3. É preciso ter hora para começar e hora para acabar. É preciso acordar na hora devida. E desligar o computador e desconectar-se do escritório, do trabalho, na hora certa.

O que eu mais tenho curtido até agora, além de não perder tanto tempo de vida trancafiado dentro do carro, são os breaks com meus filhos. Faço um ou dois ao longo da tarde. São cinco minutos de alegria, de farra, de presença.Acho que é isso o que querem dizer com o conceito de "quality time". É a hora do beijo, do abraço, da luta no chão, das cócegas, dos cheiros, de uma ou outra brincadeira rápida. (Meu filho está curtindo agora um filme novo que apresentei a ele esses dias e que ele chama de "Guerra de espadas nas estrelas"...) Depois troco de universo de novo, de dimensão, e o dia de trabalho segue. Eles têm 4 anos e, acredite, entendem e respeitam. E acredito que sintam quase tanto prazer nessa nova rotina do papai quanto eu. Temos almoçado juntos ao menos três vezes por semana. Temos tomado banho juntos no mínimo esse tanto de vezes. Daqui do meu lado, decidi que não serei um daqueles caras que afirmam, chateados: "não vi meus filhos crescerem". Estou vendo tudo bem de perto. De olhos bem abertos. E o home office tem me ajudado muito com isso.

Um comentário:

Mauricio Domene disse...

Se o horário de trabalho tem que ser definido, sem haver interferência de outros afazeres (ou de não fazeres), se tem que usar roupa de trabalho, se estiver tentando impor as mesmas regras rígidas como se estivesse num escritório... pra que trabalhar em casa? Só para escapar do transito?

O bom de home office é justamente o contrario disso: é poder ir no supermercado no meio da tarde, poder sair pra caminhar no meio da manhã, poder trabalhar até tarde num dia e tirar o outro de folga pra ir no parque com os filhos, e na volta do parque poder se enfiar no home office de camiseta e shorts pra responder alguns emails e trabalhar mais um pouco pra compensar a saidinha.

Enfim, é pra ter liberdade.
Você já está experimentando um pouco dessa liberdade, mas ainda está carregando "o cara do escritório" dentro de você :-)

Claro que tudo com responsabilidade pois não tem chefe cobrando: só tem os trabalhos que precisam ser feitos e entregues nas datas certas. Como isso será feito, em que horários, de que forma, isso é a liberdade do home office.