segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mesmo as migalhas alimentam
São Mateus 15.21-28

Pai!
Não quero mais viver, hoje já não faz mais sentido.
O sorriso é amarelo e vazio, o coração cansado de sofrer.

Pai!
Não quero mais ver, a minha vida se perdendo,
os meus queridos por mim sofrendo; a minha alma não deseja mais viver.

Pai!
Não quero mais viver! Só vejo a morte como solução
para a dor e a angustia do meu coração. A minha vida eu não quero mais viver.

(Pai! Filho!, de Giovanni C. A. de Araújo)

As palavras que acabo de ler são as três primeiras estrofes de um poema de minha autoria, mas poderiam ser as palavras de angústia de muitos de nós e de muitas pessoas que conhecemos. A angústia e o desespero tomam conta de nossas vidas. Porém, quando chegamos a momentos críticos, percebemos que somos nada diante da grandeza de Deus.

No texto que lemos, encontramos Jesus na terra de Sidom, ao norte de Israel, região conhecida hoje como Palestina. Nesta região, Jesus caminhava com seus discípulos quando é seguido por uma mulher que insiste em pedir a a ele que tenha misericórdia dela e de sua filha.

É neste contexto que vamos aprender que é preciso ouvir o clamor. Os discípulos estavam incomodados. O grito insistente daquela mulher, Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, incomodava os ouvidos judeus dos discípulos. Ela gritava, clamava em desespero por saber que apenas o Filho de Deus poderia resolver seus problemas. Ela sabia que somente Jesus poderia curar a enfermidade espiritual de sua filha. Ela clamava e os discípulos não a ajudavam, se incomodavam com o clamor daquela mulher estrangeira.

Vamos atualizar esta passagem e tentar entender como o clamor daquela mulher se repete nos dias de hoje. Quantas pessoas nós conhecemos que nos procuram para falar de suas dificuldades? Quantas pessoas nos procuram para desabafar, falar de suas angústias e frustrações. Como você tem ouvido esses desabafos? Será que tem ouvido como os discípulos ouviram o clamor daquela mulher? Será que não pensamos meu Deus, lá vem ele de novo alugar meu ouvido?

Temos o costume de falar de Jesus e dos assuntos referente à vida com Jesus da porta para dentro da Igreja e, quando muito, apenas com pessoas cristãs. Porém, quantas vezes falamos da alegria de enfrentar as dificuldades da vida ao lado de Jesus? Quantas vezes nos dispomos a terminar uma conversa de desabafo com uma palavra de fé para quem nos procurou? Não é preciso citar versículos nem falar uma palavra comum do meio cristão, basta apenas uma palavra de fé, de esperança e de confiança em Deus.

Como temos ouvido o clamor das pessoas ao nosso redor? Será que temos aberto nossos ouvidos e fechado nossos corações? É preciso olhar para esta passagem e ver que, ao contrário dos discípulos, Jesus ouve o clamor de todos.

Interessante a forma como Jesus inicia o diálogo com esta mulher estrangeira. Ele inicia com uma afirmação que poderíamos até interpretar como racista: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel, Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. De uma certa forma, Jesus parecia dizer: não tem nada para você aqui, somente para os de casa. Mas, se voltarmos nossos olhos para passagens anteriores no próprio evangelho de São Mateus, veremos em 2.1-12 estrangeiros vindo à Belém saudar o nascimento de Jesus. Em 8.5-13 veremos Jesus elogiando a fé de um oficial romano, portanto não judeu. Se continuarmos a leitura no próprio evangelho de São Mateus, em 21.37-44 veremos Jesus afirmando que o Reino de Deus não é apenas para os judeus. Na parábola das bodas, em 22.1-9 veremos Jesus afirmando que o banquete do Reino dos Céus é para os excluídos da casa. E por fim, no final do evangelho encontraremos ainda em 28.19 a ordem expressa de fazer discípulos de todas as nações, não apenas entre judeus. Portanto, aquelas palavras aparentemente duras de Jesus devem ser entendidas como primeiro os de casa, depois vocês.

Daí vem a lição maior para os discípulos que sai da boca daquela mulher estrangeira: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Aquela mulher estrangeira mostrou aos discípulos que o amor de Deus não era restrito apenas para seu povo eleito, mas que aqueles que vivem à margem do povo escolhido também podem ser alvos da benção de Deus.

Por quanto tempo pensaremos que Deus é Deus apenas dos cristãos protestantes? Ou apenas dos evangélicos? O que ele abençoa apenas os que são cristãos? Por quanto tempo ainda cometeremos o erro de achar que as bênçãos de Deus são merecimentos nossos e não graça derramada por ele? Precisamos ter consciência que nós somos propriedade de Deus e não Deus nossa propriedade. Fechamos nossos ouvidos para o clamor de pessoas desesperadas, com situações que não conseguem mais gerenciar em suas vidas e agimos como os discípulos agiram: Senhor, afasta essa pessoa de nós! Quantas vezes ainda negaremos ao nosso próximo a alegria do banquete espiritual que é participar de um culto, estudar a Palavra de Deus na Igreja e em casa? Por quanto tempo ainda vamos calar nossos corações e não agirmos diante do clamor de pessoas que estão desesperadas, perdidas, com problemas sem fim.

Meu querido e minha querida, você e eu podemos ter os maiores problemas do mundo, nos somos filhos de Deus e sabemos que ele está no controle de tudo. Portanto, desculpas do tipo eu já tenho meus problemas não são argumento para não sermos bênçãos na vida das pessoas ao nosso redor. Mesmo que estejamos com nossos corações arrasados por sofrimentos e angústias, ainda poderemos servir as migalhas das nossas experiências de vida com Jesus para pessoas que não tem com o que alimentar a sua esperança. Se nos dispusermos a sermos testemunhas fiéis, poderemos fazer das migalhas verdadeiros banquetes espirituais para almas sedentas de Jesus.

Concluindo. Convivemos diariamente com problemas, seja na nossa vida, seja na vida daqueles que não conhecem o amor de Deus e buscam em nós uma ajuda. Clamam por ajuda e nós, como discípulos, devemos ouvir este clamor com nossos corações e servir de testemunho de que Deus pode sim mudar as nossas vidas. Ele tem um banquete reservado para as almas sedentas e desesperadas que não enxergam futuro para suas vidas. Não fechemos nossos ouvidos para o clamor do mundo.

Precisamos mostrar às pessoas ao nosso redor que existe uma saída, que Deus é a resposta para a angústia de nossas vidas. Quero terminar com alguns versos que fiz já algum tempo, quando passava por uma situação difícil em minha vida.

Muito Mais
(Giovanni C. A. de Araújo)

Muito mais do que preciso,
é o que Deus pode fazer.
Muito além do que presença,
Deus invade o meu ser.

Abençoa, dá a paz e me guia,
Ao meu lado caminha, me ensina em amor.
Corrige, exorta e me abraça,
me enche de sua graça,
te louvo meu Senhor!

Além do meu pensar,
muito mais do que o meu querer.
Infinitamente mais,
é o que Deus pode fazer!

Deus faz em nossas vidas muito mais do que pensamos. Ele, inclusive, nos usa como instrumentos para fazer na vida do nosso próximo muito mais do que possamos imaginar.

Igreja, ouvidos atentos e corações abertos, pois o mundo clama e nós não podemos virar a cara para este clamor! Que Deus nos abençoe.

Rev. Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo

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