sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Não seguimos a líderes, seguimos a Cristo
1Coríntios 1.10-18

Os dias atuais nos apresentam algo jamais contemplado na história: um número de líderes que se dizem cristãos e estão em evidência na TV, no rádio, na Internet, nos meios de comunicação. A fama dos líderes cristãos rompeu a barreira da Igreja e alcançou o mundo. Uns poucos com bons exemplos, outros muitos com péssimo testemunho.

Na Igreja de Corinto surgiram diversas divisões. Estas divisões ocorreram internamente e, pelo que sabemos, não chegou a dividir a comunidade de forma a criar outra Igreja, mas causava constrangimento e dificuldade para a liderança da Igreja. Isto porque alguns cristãos de Corinto passaram a achar que determinados líderes é que eram os certos e que os demais estavam errados. Daí se iniciou uma disputa. Uns pensavam ser Paulo, outros Apolo, outros Pedro o líder certo. Mas qual era o líder correto a ser seguido?

Vamos nos deter neste texto, e vamos perceber que São Paulo mostrou aos Coríntios que não seguimos a líderes.

Quem pode me dizer o nome de um líder cristão conhecido de nossos dias? Nós seguimos o que essas pessoas dizem? O que elas dizem está cem por cento de acordo com a palavra de Deus?

E aqui na nossa Igreja, a quem seguimos? O que os presbíteros e o pastor dizem, nós fazemos? O que eles dizem está de acordo com a palavra de Deus? Será que, se fossemos pesquisar mais a fundo não encontraríamos pessoas dizendo que preferem um presbítero ao outro, que prefere este pastor a aquele? Será que encontraríamos fortes defensores deste ou daquele líder?

Este era um dos problemas da Igreja de Corinto. Por ser uma Igreja inserida num contexto bem cosmopolita, ou seja, com diversas culturas e religiões influenciando o dia a dia da cidade. Daí, dentro da Igreja, encontramos aqueles que se afinavam com o que Paulo disse, outros que concordavam com o que Apolo havia pregado, outros preferiam Pedro (Cefas) porque havia andado com Jesus, e outros ainda preferiam ficar de fora dessa briga (ou queriam se sentir superiores?) e diziam que seguiam apenas a Cristo.

O que precisamos saber é que nós não seguimos a líderes. Quem é cristão a mais tempo, ou mesmo quem estudo a história da Igreja, vai se lembrar de nomes que vieram e passaram e hoje não representam mais nada no meio cristão, se não um ponto na história da Igreja. Ao longo de seus quase dois mil anos de história, a Igreja de Cristo teve inúmeros líderes comprometidos com o Reino de Deus, a grande maioria anônima na história da Igreja. Não constam em documentos, não constam em relação de mártires, não fazem parte de nenhuma lista, a não ser da gloriosa lista de Deus.

Nós não seguimos a líderes. Nós não desenvolvemos a nossa fé pelo que falam estes líderes. Então a quem seguimos?

Seguimos a Cristo. Talvez seja difícil separarmos tudo o que foi produzido pelo cristianismo ao longo de dois mil anos de história e ficarmos apenas com a mensagem de Cristo. Mas o fato é que seguimos a Cristo. Somos Rreformados, Protestantes, Presbiterianos e Calvinistas, e tudo isso aponta para o seguir a Cristo. A diferença é que não seguimos a formulas mágicas montadas por líderes, mas seguimos a teologia e tradição que foi desenvolvida e pensada biblicamente, portanto o nosso ser calvinista não é ser um seguidor de João Calvino, mas sim um seguidor de Cristo pelo que João Calvino e tantos outros pensaram e meditaram na Bíblia.

Da mesma forma, em nossos dias, podemos encontrar pessoas comprometidas com a Igreja e com Cristo, que produzem textos, meditações, poesias, quadros, canções, artes que refletem a mensagem de Cristo, mas não seguimos a estes, seguimos a Cristo.

Ao preparar esta mensagem, me deparei com um comentário muito interessante da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral de nossos irmãos católicos da Paulus:

    “O que faz a unidade da comunidade cristã é o batismo em nome de Jesus e a submissão a ele como único Senhor. Os evangelizadores e lideres são apenas instrumentos para levar a comunidade a Jesus Cristo. Absolutizando as pessoas, ela se divide, submetendo-se a outros senhores e falsificando a função dos líderes.” (nota de 1Coríntios 1.0 da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, ed. Paulus, 1990.)

De fato, o que nos torna cristãos é o batismo, não podemos jamais tornar um líder, um pastor, quem quer que seja, maior que Cristo. Daí o versículo 18 entra para nos fazer pensar: Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. A palavra da Cruz é loucura para aqueles que estão distantes da vontade de Deus, para aqueles que querem ser o centro da atenção, que querem encontrar fórmulas mágicas para viver bem em nossos dias. A mensagem da cruz não encontra lugar no coração de quem usa a palavra de Deus como pretexto para explorar o mais humilde, para tirar vantagem nas situações da vida. A mensagem da cruz é loucura, porque a mensagem da cruz é amar ao próximo como a si mesmo (São Marcos 12.31), é abençoar os que nos perseguem (Romanos 12.14), é deixar tudo e seguir a Cristo (São Lucas 5.1). Quem destes, que em nossos dias, estão nas televisões, nas rádios, nas revistas, nos jornais, nas prateleiras das livrarias evangélicas, que gravaram e gravam discos, quem destes estaria disposto a largar o que conquistaram no meio evangélico para viver em uma igreja pequena, servindo a Deus e seguindo a Cristo no seu dia a dia independente de ser ou não artista, pregador ou o que quer que seja? Quem de nós está disposto a renunciar tudo para seguir a Cristo e não seguir a estes que aí estão, dizendo que são seguidores de Jesus, mas na verdade interessados na venda de seus livros, seus discos e suas mensagens? Quem está disposto a seguir ao Mestre?

Concluindo. Muitos se apresentam em nossos dias interessados na possibilidade de se ter poder nas mãos. Poder dentro da Igreja, poder fora dela, poder para mandar fazer as coisas, poder para comprar, para ser conhecido.

Quantos dos líderes e dos nomes conhecidos em nossos dias podem ser reconhecidamente chamados de seguidores de Jesus? Quantos dos que aí estão, na TV, no rádio, na Internet, podemos qualificar como seguidores de Cristo e não líderes de um povo sem pastor?

Igreja de Cristo! É tempo de pensar e perceber que o mundo necessita da mensagem de Cristo, isto inclui a Igreja Evangélica Brasileira, que tem se perdido dentro de seu mercado e de seu desejo de fama e poder. Nós, como herdeiros da tradição Reformada, conscientes da mensagem que nos é passada hoje por aqueles que dedicaram suas vidas a levar o Evangelho de Cristo a toda criatura, precisamos abrir nossos olhos e arregaçar as nossas mangas para levantarmos o Pendão Real do Salvador, e proclamarmos e vivermos a mensagem de Cristo. Não somos de nenhum líder, somos de Cristo!

Rev. Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo

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