*Por ROMERO CARVALHO via blog do Juca
Belo Horizonte tinha quase 11 anos.
Um bebê recém-nascido se comparada a outras grandes cidades brasileiras, como Rio, São Paulo, Salvador e Porto Alegre.
Criada para ser a capital de um Estado muito rico e poderoso, BH ainda era um contêiner a ser aberto.
Nessa capital rural, ainda com poucos habitantes, com uma vocação moderna, mas moradores que envergavam a bandeira da "tradicional família mineira", um grupo de estudantes, no coreto do Parque Municipal, fundou uma paixão, manifestada por meio de um clube de futebol.
Batizaram-na de Clube Atlético Mineiro.
Curiosamente, pouco depois, os ingleses de uma mineradora estabelecida no pequeno município de Villa Nova de Lima, atual Nova Lima, fundaram o Villa Nova Atlético Clube.
Amanhã os dois se enfrentam.
Cem anos depois.
Talvez seja a primeira vez na história do futebol. Rivais regionais, enfrentando-se no ano de seus centenários.
O Atlético Mineiro foi mais bem-sucedido.
Torcida imensa, espalhada pelo mundo, apaixonada.
Maior vencedor do Campeonato Mineiro com 39 conquistas, o primeiro campeão brasileiro, bi-campeão da Copa Sul-americana, quando ela se chamava Conmebol, além de ser o clube que mais chegou entre os quatro primeiros colocados nos Campeonatos Brasileiros.
Lar de craques internacionais, o Galo é, porém, azarado, já que poderia ter ganho muito mais.
Mas seu povo resiste e levanta sua bandeira como uma filosofia máxima.
Afinal, "onde houver uma camisa branca e preta pendurada num varal em meio a uma tempestade, o atleticano torce contra o vento".
E a massa gosta de tentar fazer o vento parar.
O Villa Nova teve ainda menos sorte.
Sua fama de aguerrido, de "Leão do Bonfim", quarto maior vencedor do Campeonato Mineiro, que sempre amedrontou os grandes da capital, sobretudo em seu pequeno estádio, nunca ultrapassou as fronteiras do Estado.
Por muitas vezes, aliás, esteve restrita à região metropolitana.
Exceção, é verdade, para o ano de 1971, quando o Leão venceu a primeira Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Sua fanática torcida, orgulho da cidade de Nova Lima, porém, segue fiel. Superou quedas de divisão, perda de prestígio e décadas sem títulos.
Caminhos distintos, paixões semelhantes.
Atlético vs Villa é o clássico da raça.
Para a histórica partida de amanhã, o palco, obviamente, deveria ser outro.
O acanhado estádio Castor Cifuentes, o famoso "Alçapão do Bonfim" é antigo, ultrapassado, e hoje liberado apenas para 4,5 mil torcedores.
O Mineirão era o lugar certo, que espelharia a grandeza desse confronto centenário.
Lamentável.
Mas não perco por nada!
*Romero Carvalho é jornalista.
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