quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Ser pai é ótimo

Amigo, pode ser que você esteja naquela fase da vida em que se pergunta se a sua hora de ser pai chegou.Talvez você já esteja casado, morando junto e se questionando se é o momento de gerar um filho.Talvez você ainda esteja solteiro, borboletão da silva e saiba elencar todas as razões do mundo para não se amarrar em definitivo-nem a uma consorte, muito menos a uma prole.
A você, amigo, eu tenho a dizer o seguinte: ser pai é muito bom.Quem lhe fala é um sujeito que sempre discursou contra a instituição do casamento, que sempre desejou todas as mulheres que sempre olhou com medo para a enorme responsabilidade de por uma criança no mundo.Sabe aquele questionamento machadiano sobre o sentido de passar seus genes adiante, de deixar a alguém o legado da nossa imensa miséria? Pois é. Essa era a minha cantilena.Esse é o sujeito que lhe está dizendo- ser pai é bom demais.
Não há momento certo para ter filho. Não há hora certa para trocar a trepidante vida de solteiro pela rotina da paternidade – que costuma ser um negócio ainda mais trepidante. Não tem um clique que acontece em determinado momento indicando que, a partir dali, você está pronto para ser pai.A minha decisão,se você quer saber, amadureceu lá pelos 30 e poucos. Estava com a carreira encaminhada, vivendo uma relação bacana,com a certeza de que outros vôos solo não me interessavam. Aí me deu tesão de construir um ninho, curtir uma gravidez, virar pai.
Ser pai faz de você uma pessoa melhor. Seu filho aprenderá a viver observando você. Eis a tremenda importância que você terá para ele como parâmetro de atitude, de comportamento, de caráter.Somente os canalhas irrecuperáveis ficam impassíveis diante dessa nova condição.Você que não tem nada de canalha, certamente tratará de limar todos os seus defeitos possíveis de limar – em nome da construção ética da criatura que você mais ama no mundo. Para tratar bem da cabeça do seu filho, você terá antes que revisar bem a sua.
Ser pai também faz de você uma pessoa mais culta. Você terá que pesquisar um bocado sobre coisas que não compreende direito, premido pela curiosidade invencível do rebento. Ele ou ela – ou os dois ao mesmo tempo, como no meu caso – vão te perguntar muita coisa. O tempo todo. E confiarão cegamente em suas respostas. Você terá de se instruir melhor para instruí-los bem.
Ser pai o reaproximara dos seus pais.A sua paternidade vai redimir um bocado do que foi a paternidade deles. Os pecados,os silêncios,os desmandos do seu pai.As chantagens, as chatices, as injustiças praticadas pela sua mãe. Boa parte dessas imperfeições, que te cortaram a carne,será mitigada pelas suas inevitáveis imperfeições.Seus filhos o farão redescobrir seus pais.Você vai precisar do apoio dos velhos.E o amor arrebatador que você sente pelos filhotes vai fazer ressurgir o amor filial que você um dia sentiu pelos seus pais – e que os anos de vida adulta soterraram um pouco. Ser um bom pai devolverá a você à condição ser um bom filho.
Ser pai vai dar um novo significado à própria idéia de família. De almoço de domingo. De folia gastronômica na cama, em frente ao DVD, você apresentando um filme bacana da sua infância ao seu filho – que provavelmente não vai achar graça nenhuma nele.
Por fim: ser pai emagrece. O que o casamento engorda, a paternidade consome.Você gasta mais energia: caminhará pelo shopping com quilos de gente num braço e todas as compras no outro, exercitará bíceps ao dar banho,desenvolverá o abdominal em sessões de luta greco- romana no tapete da sala. Na outra ponta,você vai comer menos.A figurinha almoça e janta o que é dele ou dela, e depois fila o que é seu.. Resultado: músculos mais rijos, menos barriga e uma deliciosa sensação diária de estafa e de vida bem vivida.


Autor: Adriano Silva – observa as mulheres com fascinação há 36 anos.

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